quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Trecho do 3º capítulo: "Nas rodas do tempo"

(...)
Pensando que seria uma simples festa temática com músicas que tocam na rádio, Alê entra sem esperar muito. Mas interrompe o passo de repente. Para, admirado, e sorri sozinho. Olha para o salão como se estivesse com os olhos virados para dentro de si. Tudo aquilo que via era reflexo do que já existia nele. Só não poderia imaginar que era realidade em algum lugar. Aquele som, aquele estilo de ser e se vestir...

O telão já prepara a turma, mostrando cenas de filmes em preto e branco cheias de jovens animados dançando rock'n'roll. Fernando Barreto, locutor do Brilhantina, sobe no palco, dá as boas-vindas à turma e apresenta a banda: Henry Paul Trio! Rockabilly de primeira qualidade. O microfone usado é igual aos antigos. Parece uma caixi¬nha de metal cheia de furos. Até o som sai retrô.

No instante em que os músicos começam a tocar, os rockers puxam pelo braço a garota mais próxima e rodopiam no salão com a voracidade natural do rock. Pra chamar a atenção mesmo. E se divertir.

Aquela batida característica do rockabilly: o sobe e desce dos dedos nas longas cordas do baixo acústico, don, don, don, don, don, don, inundou Alexandre como um temporal. Não dava para diferenciar o som mecânico do da banda. Perfeito!
(...)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Trechos do 2º capítulo: "À sombra do rei"

(...)
Quando Maurício compara as gerações, a juventude dos anos 60 com a do tempo presente, percebo seu tom crítico aos valores atuais. O superficial de hoje versus o sentimento do passado. Onde estão as emoções?

O que os anos dourados deixaram de mais forte para o músico é o romantismo. Não somente aquele de homem e mulher, mas, principalmente, relacionado ao respeito pelo próximo. “Gritar com um professor na classe era um crime, acho que inafiançável. Ele era o segundo pai de família praticamente. Agora há pouco fiquei sabendo de um aluno de deu um tapa em uma professora porque ela pediu para ele tirar os pés da mesa. Não existia essa violência antes!”

(...)

Aos 14 anos, em seu quarto, o adolescente colava os ouvidos ao alto-falante da Hi-Fi Standard Electric enquanto a vitrola tocava algum novo rock de Elvis. Não deixava escapar uma nota sequer, agarrando a música tão forte como se quisesse absorvê-la. Nem imaginava o seu dom nato para a carreira.

Assim, várias vezes Maurício ouvia Heartbreak Hotel e se imaginava no colégio, tocando com um colega para fazer bonito para as meninas. Com o “tararará-tarara, tararará-tará” da guitarra de Scotty Moore nesta canção, acompanhada de Elvis, se via com um baixo nas mãos e as garotas gritando enlouquecidas.

– Meu único atrativo era o musical. Hoje faço justamente isso.

– E as meninas continuam gritando? – provoco.

– É, elas gritam de raiva, mas gritam – faz charme.
(...)